sexta-feira, 3 de junho de 2016

A história do sapato


O ano de 1986 foi realmente muito especial. Na imparável cidade de São Paulo, em pleno carnaval, os sapatos saíram da caixa pela primeira vez. Eram lindos, novinhos, ainda não tinham se submetido ao contato com o solo.

Aos poucos, começeram a descobrir os caminhos a trilhar. Por onde passavam, descobriam novas texturas. A maciez da grama, a aspereza do cimento, a dificuldade de atolar no barro. Cada solo com sua característica própria os levava a experimentar novas sensações a cada momento.

Não foram poucas as vezes que ele toparam com obstáculos, e isso os modificaram, deixando marcas por todos os lados.

Pelo caminho das descobertas, muitas pés calçaram os sapatos. Alguns em busca de conforto, outros em busca de proteção para passar solos difíceis e outros, apressados, que corriam para alcançar mais rápido o seu destino. Todos os pés também modificaram os sapatos, devido aos seus diferentes formatos e, também, a diversidade de intenções pelas quais o calçavam.

Todos concordam ao dizer que os sapatos os ajudaram muito em seus caminhos, facilitando o trajeto, protegendo e agilizando muitas vezes os passos. Porém alguns, após o uso, simplesmente o jogaram para o canto onde os sapatos, sem entender o motivo do abandono permaneceram, até que os próximos pés os resgatassem.

Não obstante, os sapatos olham todos os caminhos que já trilharam, todos os pés que ajudaram, todas as pegadas que pelo caminho deixaram e, ainda que algumas vezes entrassem pedras neles, que ficassem enlameados ou cheios de areia, percebem o quanto valeu a pena. Os sapatos participaram de histórias. Deixaram caminhos a serem trilhados. Acima de tudo, os sapatos construíram histórias.

Os sapatos nada mais são do que nós mesmos.

Passamos por tantos caminhos. Alguns passeando, outros apressados. Tantas histórias vivemos. Tantos pés(soas) acolhemos. Ainda que alguns tenham nos usado apenas para alcançarem seus objetivos, fazemos parte do caminho deles.

Que todos nós possamos ser como os sapatos, que percorrem caminhos, que deixam pegadas, que ajudam outros a trilharem os trajetos. Que resistamos as topadas e nos adaptemos aos diferentes tipos de solos pelos quais pisamos. Que acima de tudo, façamos história, deixando ensinamentos e memórias a todos quantos precisarem as "calçar" para prosseguir.
 

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